Dizem que viajar nos faz ficar mais ricos.
Num ecrã de computador, a minha família coberta por mantas e caschecois, sorri ao ver a minha imagem transmitida a milhares de kilometros de distância.
As saudades do que deixámos em casa, ou das pessoas que deixámos no caminho, tiram-nos pedaços de nós. Fazem-nos esquecer coisas e tantas outras coisas que temos cá dentro.
Viajei, regressei, parti, fiquei. Um ano depois tudo está na mesma. A universidade de Coimbra pinta sombras e tons de amarelo sobre a alta que lá fica. As pessoas perdem cabelos, memórias e coisas.
Esquecem-se do que tínhamos de bom em tempos. Esquecem-se de quando jogávamos à bola com chuva ou sol. Esquecem-se das gargalhadas que dávamos esquecendo o mundo lá fora.
As pessoas que conheço, perderam já muito mais que cabelos e outras coisas.
Talvez pensem que lá no fundo nunca tenha regressado a casa. Lá no fundo talvez nunca tenha regressado.
Lá no fundo talvez nunca tenha realmente regressado, e talvez esteja ainda lá ao longe. Numa praia de água quente, ou num quarto de hotel com paredes sujas. Lá no fundo, talvez esteja apenas à espera que me liguem no Skype para que veja a minha família sorrir enquanto escondo o não saber quando regressar.